
Na edição passada, quando iniciamos a nossa série de matérias sobre os erros de português cometidos no dia-a-dia nas empresas, nossa colega, Ligia, nos lembrou as dificuldades na utilização dos verbos ratificar e retificar. De fato esta dupla, com significados bem diferentes, costuma causar muito desconforto na hora de ir para o texto ou ser citada em uma conversa. Mas por que isto ocorre? Primeiramente por serem palavras fora do nosso contexto diário, o que faz com que tenhamos sempre que recorrer a nossa memória para buscar seu significado, mesmo que já o tenhamos aprendido. E segundo, porque elas são bem parecidas entre si, tanto na escrita quanto na pronúncia, o que faz com que haja essa confusão. Mas isso também acontece com outras palavras, e pelo mesmo motivo. Sabe por quê? Exatamente por sua semelhança. As palavras capazes de criar esse tipo de confusão têm nome! São as parônimas!
Mas atenção! Parecer não é ser! E o seu discurso pode ficar seriamente comprometido! É o caso de vultoso e vultuoso. É comum ouvirmos vultuoso como sinônimo de volumoso, importante, grande. Na verdade, vultuoso tem outro significado, completamente diferente. Faz referência à vultuosidade (congestão da face) ou a quem tem um rosto grande. Ou seja, você pode ser vultuoso mas, seus ganhos, vultosos.
Eis alguns exemplos de parônimos que causam ruído na informação, caso não esteja bem empregado:
Eminente - alto, elevado; excelente.
Iminente - que ameaça a acontecer em breve.
Descrição - ato de descrever (falada ou escrita)
Discrição - qualidade de ser discreto.
Infligir - aplicar pena, castigo; causar, produzir.
Infringir - violar, transgredir, desrespeitar.
Deferir - atender, despachar favoravelmente.
Diferir - adiar; divergir, discordar; ser diferente.
Ratificar - validar (o que foi prometido); comprovar.
Retificar - corrigir, emendar; restaurar.
Acerca, a cerca ou há cerca?
Acerca de (a respeito de, sobre alguma coisa)
A Seguradora decidirá acerca dos prêmios pagos.
A cerca de (a uma distância qualquer – espacial ou temporal – aproximada de alguma coisa)
Os economiários entraram em greve a cerca de uma semana do início do ano.
Há cerca de (faz aproximadamente, faz perto de, existem aproximadamente)
A reunião teve início há cerca de vinte minutos.
Há cerca de trinta pessoas na reunião.
Afim ou a fim?
Afim (parentesco ou parente por afinidade; sinônimo de semelhante, análogo)
Objetivos afins.
A fim de (que) (sinônimo de “para que”, “para qual finalidade”)
O advogado poderá renunciar ao mandato a fim de que lhe nomeie sucessor.
Um erro de português que de vez em quando ainda ouço nos dias de hoje são as expressões:
Eu tinha trago a documentação. (forma errada)
Eu tinha chego atrasado. (forma errada)
Eu tinha compro um carro. (forma errada)
Creio que este erro ocorra talvez por soar “mais agradável” aos ouvidos do falante do que as corretas orações:
Eu tinha trazido a documentação. (forma correta)
Eu tinha chegado atrasado. (forma correta)
Eu tinha comprado um carro. (forma correta)
Mas com certeza você poderá surpreender e até ferir os ouvidos do seu interlocutor, além de desprestigiar a empresa onde trabalha. Mas antes de explicarmos este assunto, vamos nos recordar dos particípios de acordo com os verbos regulares e irregulares. Então a pergunta é:
Salvo ou salvado?
Imprimido ou impresso?
Aceito ou aceitado?
Os particípios regulares (salvado, imprimido, aceitado) são acompanhados pelos verbos auxiliares ter e haver.
Já os particípios irregulares (salvo, impresso, aceito) são acompanhados pelos verbos auxiliares ser e estar.
DICA:
Veja que os particípios irregulares parecem mais “enxutos” que os regulares. Isto já serve para que você memorize. Alie esta informação à de que estes particípios estão sempre em parceria dos auxiliares ser e estar (o verbo TO BE, em inglês).
Eu havia imprimido aquele ofício.
Tinha salvado aquele arquivo.
Havia aceitado o seu convite.
O ofício foi impresso naquela máquina.
O e-mail foi salvo na pasta.
Foi aceito o convite.
Exceção:
Os verbos ganhar, gastar e pagar devem ser usados somente na sua forma enxuta, independentemente de seus auxiliares. Portanto, é válido as formas ganho, gasto e pago e evite, sempre que possível, as formas ganhado, gastado e pagado.
Já os verbos trazer, chegar e comprar não possuem o particípio irregular, devendo somente ser usados em sua forma regular: trazido, chegado e comprado.
Mas essas conjugações não existem? Sim, elas existem. Mas não junto aos verbos compostos. Veja:
Formas corretas:
Chego hoje a Brasília.
Trago boas notícias.
(Os verbos chegar e trazer no presente do indicativo, na 1ª pessoa do singular).
Quando trago a fumaça, fico com tosse. (verbo tragar)
Por hoje é só! Na próxima edição continuaremos a explorar a utilização do português na linguagem empresarial.
Aproveite as dicas e um grande abraço!
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