sábado, 5 de março de 2011

O Amor e o Barqueiro

Quando criança, amava ouvir as belíssimas histórias contadas por meu avô, português, que veio ao Brasil aos vinte e dois anos com um tio a fim de conhecer o país e nunca mais retornou às Terras Lusitanas, vindo a morrer aqui, em Brasília, em 1995.

Meu avô, como tantos outros avós maravilhosos, contava-me histórias extraordinárias! Mas tinha algumas que me eram tão especiais, que pedia a ele que as repetisse sempre, chegando ao cúmulo de dizer-lhe que as queria guardadas em minha memória para que, no dia em que ele se fosse, as pudesse ter gravadas na memória...

Eis uma dessas histórias que me deixaram lembranças boas e que, agora, quero reparti-la com você:


O Amor e o Barqueiro¹

O Amor queria atravessar um rio e avistou um barqueiro. Ele pediu ao barqueiro:
- Por favor, me leve à outra margem do rio.
Mas o barqueiro, triste, lhe respondeu:
- Sinto muito, mas não posso passá-lo para lá.

Então ele avistou um outro barqueiro a frente, e pediu:
- Por favor, senhor, me leve à outra margem do rio.
O barqueiro, em tom seco e arrogante, respondeu-lhe:
- Não! Não vou passá-lo à outra margem!

O Amor, então, desanimado, avistou um terceiro barqueiro, muito velho, mas que nem esperou que o Amor lhe dirigisse a palavra e foi logo dizendo:
- Venha, meu jovem! Entre aqui que o levarei ao outro lado!

O Amor, agradecido, perguntou ao barqueiro:
- Você conhece aqueles outros barqueiros?
- Sim, os conheço.
- E por que eles não me quiseram levar? – Indagou o Amor.
- O primeiro barqueiro – respondeu-lhe – é o Sofrimento. O Sofrimento não faz passar o Amor.
- E o segundo?
- O segundo barqueiro é o Desprezo. O Desprezo também não faz passar o Amor.
- E tu? Quem és? – Perguntou, já curioso, o Amor.
- Eu sou o Tempo. E só o Tempo faz passar o Amor.

¹ Conto de Malba Tahan.

Nenhum comentário:

Postar um comentário